Depois de um dia denso, do caminho até a casa vejo um sol se pondo vermelho no céu. E a cabeça só pensa em uma coisa.
Que sol lindo paro pra ver. Fico presa do lado de fora, talvez por obra dos astros, pra que eu ficasse ali mais tempo, admirando o astro-rei. Sei que nos quatro cantos da cidade , naquele quase-instante, de não mais que dez minutos ele era por muitos louvado e respeitado.
Hoje se vestiu muito bem e foi à festa dos homens. Os homens o viram. Lá do alto, soberano, a captar toda a energia boa que pudesse receber e todas as energias ruins daqueles que o olhavam. Prostrou-se pela renovação.
Buscava não menos que demonstrar de forma cristalina e fugaz todo o seu poder de astro-rei, dono dos séculos e amante da lua.
Por vê-lo tão iluminado, ficaram todos curiosos em saber como surgiria a linda e doce luz da noite.
Ainda assim disseram que o traje vermelho daquele senhor anunciava tempos frios.
Cada qual trouxe sua compreensão. Seria aquilo um fenômeno? Ou seria uma forma de exibir a grandeza e luz do que sempre está presente mas que só se vê quando está num traje mais imponente?
Talvez apareça de uma cor para cada um que o observou na cidade.
Assim, quando se pôs já havia consumido e decantado todas as energias que suportou e conheceu as origens deixando a cada simples observador um recado distinto. Disse ainda que voltava, pois precisava angariar mais olhos, em prol da renovação.
Tentei acompanhar sua saída do alto daquela varanda, mas não foi possível vê-la por completo. Do chão, ele deixou claro que era mais fácil.
Nem hesitou em transmitir que o contato físico não é dos primordiais. Pela estada fulgaz naquela tarde trouxe-me a paz e a reflexão.
Avisou sobre o caráter cíclico das energias e de mansinho sussurrou:
"Fique com a luz da noite.
Embora estejamos, nos milímetros dos homens, bem distantes,
não há distância no universo.
Tudo está intimamente ligado, abraçado.
A luz da noite nem precisa me mandar recado..."
(Mariana - em 02 de outubro de 2010)